SANTIAGO DE COMPOSTELA - CAMINHO PORTUGUÊS SETEMBRO DE 2018

Postado por: Arestides Porangaba | 12/05/2020

SANTIAGO DE COMPOSTELA - CAMINHO PORTUGUÊS

Setembro de 2018

Não se pode negar que nossas vidas são marcadas, para sempre, por momentos inesquecíveis, não é verdade? Pois é! Minha vida não é diferente e devo isto ao Caminho de Santiago de Compostela.

Em 2014 fiz o Caminho de Santiago com um grupo de amigos. Em 2016 retornei ao Caminho em uma aventura “solo”. Em setembro de 2018, retornei a Santiago de Compostela fazendo o caminho Português. Não sei o que se passa. Será que estou sofrendo de uma síndrome do Caminho?

Apesar das várias viagens que já realizei, das várias aventuras ciclísticas vivenciadas em grupo e solo, o Caminho de Santiago me marcou sobremaneira. O fato de estar pedalando sozinho parece que me deixa liberto... acordo a hora que quero, pego a estrada na hora que quero, vou por onde quero, paro quando quero, faço minhas refeições quando quero.... Não sei o que se passa... pedalar sozinho pelo caminho místico e milenar em um pais que não é o meu, centenas de pessoas desconhecidas que cruzam nosso caminho e que nunca mais reencontraremos...

Desta feita fiz o Caminho Português de Santiago por sugestão de minha filha que está concluindo o doutorado em letras e estuda também escritores portugueses. Foi ótimo, pois acabei viajando com Sandra, minha esposa e Ana Maria, minha filha.

Planejamos uma viagem de 20 dias. As duas ficaram em Lisboa e eu fui para a cidade do Porto dia 12, iniciar minha nova aventura programada para o dia 13 de setembro.

Vale a pena socializar dois “probleminhas” ocorridos quando da minha chegada na estação ferroviária de Porto. O primeiro foi uma queda horrível que levei na escada rolante, carregando minha bike com alforjes, sacolas, capacete, etc., etc. Foi um alvoroço, gritarias, a escada rolante travou, me seguraram e a bike também. Um grupo de pessoas muito gentis e preocupadas comigo me ajudaram a concluir a subida. Graças a Deus nada sério. O segundo foi a dificuldade em conseguir um taxista que me levasse até o hotel. Isto já era dez horas da noite. Acabou se resolvendo com a chega de uma “alma caridosa” que me ajudou.

No dia seguinte, após o café e já preparado para iniciar minha aventura, observei que a bike tinha sofrido avarias nos dois discos de freio, consequência da queda que levou na escada rolante. De imediato fiz contato com a Portugal Green Walks, empresa portuguesa que eu contratei para cuidar das reservas nos hotéis que eu iria pernoitar e também especializada no apoio e assistência a ciclistas – só tenho que agradecer o apoio e a assistência que recebi. Foram muito legais!

Problema resolvido bike na estrada.

O Caminho Português, também conhecido como Caminho Central Português, é o segundo itinerário mais utilizado pelos peregrinos para Santiago de Compostela. O primeiro é o Caminho Francês.

Da cidade de Porto até Santiago de Compostela temos que pedalar cerca de 240 km, usufruindo de uma infraestrutura de apoio muito boa, contando com Albergues privados e municipais, Hostels, Hotéis, Pousadas, Cafés e restaurantes. Muitos supermercados e mercearias abastecem todos os peregrinos e ciclistas que se aventuram pelo Caminho.

Para não ficar cansativo farei um resumo desta aventura que se iniciou em Porto em 13 de setembro.

Na primeira noite pernoitei na cidade de Barcelos, região com muita lenda e tradição é conhecida também pelo importante Polo Industrial, destacando-se o setor cerâmico e o de manufatura de malhas.

Na segunda noite pernoitei na cidade de Ponte de Lima, também conhecida como a alma do Minho, com bonitas fontes e sua secular Ponte romana/gótica sobre o Rio Lima, foi um dos momentos mais marcantes do Caminho Português.  Quando em direção a cidade de Rubiães se depara com a mais difícil subida do Caminho Português – Serra da Labruja, a mais cansativa do Caminho!

O próximo pernoite foi em Valença, cidade também conhecida como Valença do Minho. Presenciei um pôr do sol maravilhoso com uma linda vista sobre o Rio Minho. Vale a pena também visitar o Forte de Valença, pela sua arquitetura e sua história.

O quarto pernoite foi na cidade de Pontevedra, já na Espanha. Considero o percurso Valença-Pontevedra como um dos mais bonitos, pois se pedala em terra batida entre bosques e serrados com o visual lindo do Rio do Vigo. Inesquecíveis as duas subidas bem difíceis. Na direção de Padron encontra-se desníveis bastantes acentuados.

O quinto pernoite foi em Padron, pequena e tranquila cidade. Vale lembrar que o último dia reservou um dos mais difíceis pedais que eu tive: pedalei uma subida de quase 8 km com uma altimetria de mais de 200 metros.

Os seis dias de pedal e mais de 250 km de caminho me proporcionaram momentos extremamente agradáveis e, por vezes, extremamente difíceis. Agradáveis por pedalar e percorrer caminhos e trilhas que cortam aldeias, vilas, cidades medievais, povoados, rios maravilhosos e pontes de origem romana com suas histórias centenárias, conhecer povos acolhedores, uma natureza rica com colinas e montanhas lindas, vinhas e pomares. Observa-se muito também a presença de capelas, igrejas, conventos e cruzeiros que mancam muito a presença de Santiago de Compostela.

Difíceis por pedalar em trechos arenosos, empedrados e subidas bastante íngremes, a exemplo da serra da Labruja, regiões rurais com bastante terras cultivadas.

Inesquecíveis as degustações de vinhos deliciosos do Porto e os também deliciosos vinhos verdes oriundos da região do Minho. Não posso deixar de citar as variedades de preparações do bacalhau – deliciosos também, mas não se comparam com os que eu aprendi a preparar com minha saudosa mãe – risos, risos.

Momento que muito me marcou, nesta terceira vez de Caminho foi a chegada a Catedral de Santiago: não consegui segurar a emoção quando fui telefonar para Sandra e caí no pranto. Duas peregrinas mexicanas, ao meu lado, foram me perguntar se eu estava passando bem!

Santiago de Compostela... me aguarde!!!

Autor do post

Arestides Porangaba

http://www.bikeandoalhures.com.br

78 anos, Consultor Empresarial em atividade, apaixonado pela Magrela e Criador do Blog Bikeando Alhures.